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Recebi uma ligação de minha mãe dizendo: filho, seu pai compôs algumas músicas e quer lhe mostrar. Horas depois nos encontramos em seu estúdio onde ele apresentou uma série de seis ou sete canções feitas num intervalo de dez dias.
Na maioria de seus discos, Gil elege uma temática para nortear tanto o repertório como também os arranjos a serem gravados, mas não é esse o caso de “OK OK OK”. A faixa título estava entre as músicas que me foram apresentadas, mas não havia a intenção de Gil em batizar o trabalho com seu nome, o que só veio a acontecer posteriormente.
Naquela tarde ouvi também “OUÇO”, “NA REAL”, “TARTARUGUÊ” e as nominais “YAMANDÚ” (registrada com a participação do homenageado ao violão), “KALIL” e “JACINTHO”. Para formar o repertório do disco totalmente inédito, somou-se a essa meia dúzia de criações outras que haviam sido compostas pouco tempo antes. A primeira delas foi “SOL DE MARIA”, concebida logo após a chegada de sua bisneta. Depois veio “QUATRO PEDACINHOS”, inspirada por procedimento cirúrgico realizado durante o tratamento médico ao qual vinha sendo submetido naquele período. A partir daí, com quase dez canções, entendemos que já era hora de começar a gravar e agendamos o início dos trabalhos para os meses seguintes, e nesse intervalo surgiram as músicas que completam o disco: nossa primeira parceria “SERENO” (feita para meu terceiro filho); seguida por uma nova colaboração entre Gil e João Donato intitulada “UMA COISA BONITINHA”, iniciada muitos anos antes mas só concluída as vésperas da gravação (que conta com a participação do próprio Donato ao piano elétrico); a também nominal “LIA E DEIA”; e fechando o repertório, a canção oração “PRECE”. Defini como conceito para o disco a ideia de que os acompanhamentos rítmicos, harmônicos e melódicos deveriam estar condicionados a voz e ao violão, e que gravaríamos a maioria das bases com Gil cantando e tocando ao mesmo tempo. As sessões de gravação fluíram de forma orgânica, com o toque e o canto de Gil ditando andamentos e intenções. Porém, conforme ouvíamos as gravações, Gil demonstrava certo desconforto com o resultado, mas sem saber explicar ao certo o que o incomodava. Comigo acontecia o contrário: eu gostava do que ouvia, mas a reação de Gil me levantava suspeitas sobre a possível escolha de caminhos equivocados. Vale destacar aqui a confiança dispensada por Gil (ao longo de todo o processo) em relação a nossa parceria; o suficiente para que eu seguisse com as escolhas feitas. Quando mostrei a ele o disco pronto, ele já com certo distanciamento, gostou do resultado, apesar de reafirmar alguma estranheza em relação a como soava o conjunto da obra. Em sua opinião, tudo era demasiadamente “cool”, o afoxé e a bossa pareciam estar na mesma temperatura e apontou o próprio canto como sendo o principal denunciante. Foi quando tive a certeza do êxito na produção a qual me dediquei. Caetano já se referiu a Gil como sendo o “amigo do músico”, e creio que essa afirmação se deve ao fato de que ao fazer música Gil gosta mesmo é da troca, de que suas criações sejam em parte transformadas pela interferência dos que estão a sua volta. De Rogério Duprat (com quem produziu um disco à distância em 69) a Liminha (com quem construiu um estúdio nos anos 80), Gil sempre valorizou a mutação provocada em sua música através da contribuição do outro. No caso desse disco, apesar da moldura formada pela banda, a ideia era valorizar ainda mais sua singularidade e retratar seu estado presente como autor, cantor, músico e instrumentista. Sendo eu, ao lado de Moreno Veloso, coprodutor de seu último disco de estúdio “Gilbertos Samba”, onde essa mesma característica se apresenta, e considerando que um de seus discos mais celebrados nos últimos quinze anos é o despretensioso e solitário “Gil Luminoso” (também por apresentar sua musicalidade irresistivelmente nua), optar pela conservação das características composicionais foi inevitável. Creio que parte de seu incômodo se deve ao fato de que ele é declaradamente um não ouvinte de sua própria música. Sempre preferiu o estado da criação ao da reprodução, basta reparar que a espontaneidade é uma de suas características mais fortes. Gil ama o estúdio de “gravação”, mas prefere usá-lo como “laboratório”. Uma execução nunca se pretende igual a outra, daí a dificuldade em ter que se acostumar com a reprodução sempre igual de um mesmo “take”. Mas o registro desse repertório inédito nunca foi pensado como algo para seu próprio consumo, o que pra Gil poderia ser mais prazeroso caso encontrasse ali camuflagem suficiente. Mas não, Gil está exposto. Ao ouvinte, admirador ou não de sua obra, temos nesse disco Gil de sobra. Façam bom proveito. BEM GIL (5o filho, produtor e músico)
Há quase 40 anos acompanho o processo criativo e as gravações dos discos de Gil. Agora com OK OK OK não foi diferente, porem sinto que foi mais prazeroso para nossa família e amigos vê-lo novamente bem de saúde após um período tão delicado. Como sabem, Gil esteve doente, passou por hospitais e muitas vezes sofri quieta tentando entender os mistérios da doença e da medicina. Quando foi melhorando, a vontade de fazer música logo apareceu e por noites a dentro Gil compôs as mais lindas canções por vezes dedicadas a outras pessoas e outras pra ele mesmo, como é o caso da música que dá nome ao disco. Chamou nosso primeiro filho, Bem Gil, para produzir. Pra mim, ver Bem e Gil trabalhando juntos é a mais completa tradução de amor e respeito entre pai e filho. A família foi se aproximando do estúdio e acompanhando a realização de mais um trabalho – talvez chegando perto de 70 álbuns entre autorais e compilações das gravadoras. Bem chamou os irmãos Nara, Preta, Maria pra fazer vocais. Chamou José e os netos, João e Francisco Gil para tocarem. E assim o disco foi tomando forma, régua e compasso. Ganhei duas lindas canções: “NA REAL” e “PRECE” – as mais belas frases de amor, sabedoria e compreensão. A nossa médica Dra Roberta Saretta ganhou uma linda homenagem em Quatro Pedacinhos e nosso médico, Dr Kalil ganhou a música “KALIL”. E assim o disco traz grandes homenagens. Penso que Gil foi caminhando entre homenagens e acordes pra dizer também que agora tudo parece estar OK OK OK com ele. FLORA GIL
Oba, um disco de inéditas. Ainda não tinha ouvido nada deste novo disco quando Bem me avisou que queria que eu gravasse vocal em algumas faixas. Cheguei ao estúdio no Rio um pouco apreensiva pois meu pai estivera um tempo afastado do fazer musical por conta de doença e tratamento. Um processo difícil pra ele e pra todos nós. Ao ouvir as primeiras canções veio a surpresa e imensa alegria. Estava lá o forte/frágil, novo e ao mesmo tempo velho sabido genial Gilberto Gil. NARA GIL (1a filha)
Uma coisa que sempre nos acompanhou foi o som do violão dele. O dedilhar nas cordas, o canto em algum canto da casa. Se estivesse por perto, lá estava presente a sua música. Em meados de 2016 passando uma temporada no Rio, me hospedei no seu apartamento. Nesse período ele estava bastante frágil, passava a maior parte do dia na cama, quieto. E aquele enorme doído silêncio... Foi sofrido. Saber, meses depois, que estava compondo, tocando e gravando um novo disco, me emocionou. Ainda não ouvi o resultado final do trabalho, mas sei que gostarei. Por tudo que representa, pela volta do sonoro Gil, eu já amo OK OK OK. Certamente estará ao lado dos meus preferidos. Na estante e no coração. MARILIA GIL (2a filha)
Ah tá. É o disco novo. Papai sabe aproveitar todos os momentos de sua vida da melhor maneira que lhe cabe. Na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza tudo vira poesia. BELA GIL (7a filha)
Esse disco traz a forte marca de um período complicado pra o meu avô e toda a família. Um momento novo pra todos nós, onde vimos pela primeira vez um pai, avô e marido fragilizado por uma doença. Para mim foi muito clara a forma como a música lhe foi importante para todo o processo de recuperação. A primeira canção que saiu dessa safra foi a música que ele fez para a minha filha, o que considero um presente, talvez o mais marcante de toda a minha vida. A Sol de Maria foi a tão desejada primeira bisneta e trouxe consigo toda a força de criação que o meu avô tem, afinal de conta são oito filhos, dez netos e agora uma bisneta. Quando se fala de criação e Gilberto Gil, logo se pensa nas centenas de canções que ele compôs, mas não se pode esquecer dessa grande e unida família que ele construiu.
Lembro da primeira vez que ele apresentou a música da Sol pra todos nós e do sorriso que ela deu pra ele. Lembro do violão e da voz fragilizados pela doença e pelo tempo longe do instrumento e do cantar se tornando mais consistente com a alegria dela, com cada sorriso. Esse momento viverá em mim sempre. eu pude ver ali o renascer de uma força musical que eu nunca havia visto antes. Depois desse dia, me encontrei com ele no estúdio e já havia mais uma dezena de músicas. Não era surpresa. A criatividade e toda a musicalidade estavam restauradas e renovadas. Foi desse momento e dessas canções que nasceu esse disco que eu tenho muita felicidade e orgulho de ter feito parte. Foi depois de ter gravado nele em que demos o nosso mais longo e profundo abraço. Choramos pela vida e nada precisou ser dito além de um “Eu te amo” quase entoado em conjunto. Depois que se iniciou esse surto criativo não pararam de surgir mais e mais canções. Acho que já até dá fazer um outro disco logo em sequência... hahaha. Beijos família, amo vocês demais! FRANCISCO GIL (neto, filho de Preta Gil)

Ingressos disponíveis em https://bilheteriavirtual.com.br/

Local

Teatro Guararapes
Centro de Convenções de Pernambuco - Av. Prof. Andrade Bezerra, S/N - Salgadinho, Olinda - PE, 53111-970

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